sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

AS JANEIRAS

Segundo Joaquim Correia, na sua obra Memorias sobre o Concelho do Sabugal, nas diferentes épocas do ano o povo entoa diversas músicas, adequadas aos vários serviços, festas religiosas e romarias.
Uma dessas músicas é a que se canta em todo o mês de Janeiro, pouco depois do por do sol.
Muitos grupos de rapazes e raparigas, compostos de pessoas de diferentes classes, cantam à porta dos familiares mais abastados. É um modo de darem as boas festas ou de angariar presentes para depois fazerem um grande jantar.
É antiquíssimo o uso de pedir as janeiras, tendo origem nas festas representando assim a reminiscência de um costume romano.
A forma singela e mais rude é usada pelas crianças.
Mas a musa popular há muito inspirou esta gente e disso vamos dar ideia, transcrevendo algumas quadras, que há longos anos correm:

“JANEIRAS”
Levante-se lá senhora
Desse banco de cortiça
Venha -nos dar as janeiras
Morcela ou chouriça

Levante-se lá senhora
Desse banquinho de prata
Venha-nos dar as janeiras
Que está um frio que mata.

Ó que estrela tão brilhante
Que nos vêm iluminar
É a senhora desta casa
Que nos vêm a convidar.


Ó que estrela tão brilhante
Que vêm dos lados do norte
Á família desta casa
Que Deus lhe dê boa sorte.

Alegrai-vos companheiras
Que eu já sinto gente andar
É a senhora desta casa
Que nos vêm a convidar.

Ainda agora aqui cheguei
Logo pus o pé na escada
Logo o meu coração disse
Que aqui mora gente honrada.

Viva lá minha senhora
Raminho de salsa crua
Quando chega á janela
Põe-se o sol e nasce a lua.

De quem era o anel de ouro
Que se achou no arvoredo
Era da menina Sofia
Que o deixou cair do dedo.

Mas quantas vezes sucede que, depois de despedir ou ralhar ao rancho, a dona da casa ouve estridula gargalhada ou a conhecida frase:
-Surra, velha! Que se deixou empulhar!
Então entra todo o rancho, de gente amiga, disfarçada, comendo e bebendo alegremente.